A PRIMEIRA VEZ QUE VI A ESTÁTUA “ROLAND” - (Rolândia-Pr.)
Por Horácio Negrão
A PRIMEIRA VEZ QUE VI A ESTÁTUA “ROLAND”
“A primeira impressão é a que fica”!
Não sei se a expressão popular tem algum fundamento científico, mas a meu ver, de fato, o contato inicial é marcante. Discordo, entretanto, que seja permanente. Não é incomum fazermos juízos errôneos ou preconceituosos baseados em informações supérfluas para depois, conhecendo a essência, mudarmos de opinião.
A impressão também muda na medida em que mudamos nossa visão de mundo.
Assim se dá em relação a pessoas, lugares e imagens.
Moro em Rolândia desde sempre. Nasci em imóvel residencial localizado na Avenida Expedicionário (onde hoje funciona a Gráfica Velox). Apesar de na época - ao contrário da escassez atual - Rolândia possuir cinco hospitais (São Judas Tadeu, São Lucas, São Paulo, Fundação Arthur Thomas e “Hospital do Dr. Alemão”), sem contar a “Casa de Saúde”, o parto normal foi acompanhado pelas mãos abençoadas da Cidadã Honorária dona Henriqueta Lalli.
Ainda em tenra idade, minha família mudou-se para a Avenida Interventor Manoel Ribas, em imóvel de propriedade da família Giordani (onde hoje mora o Gustavo Filho), onde ficamos até que eu completasse treze/quatorze anos. Faço este comentário para dizer que durante quase toda a minha infância (digo “quase” porquanto, com certa freqüência a ela retorno, de forma que não sei se já a deixei) habitei a área central de nossa cidade, logo, acompanhei suas transformações.
Recordo-me, por exemplo da Praça Castelo Branco, local de passeios dominicais e um dos primeiros a poder visitar sozinho, sem a companhia dos pais ou dos irmãos, mas com as recomendações da mãe para atravessar a rua (“olhe para os dois lados”) e não dar trela a estranhos.
Não conheci a famosa “concha acústica” pois já havia sido demolida, no entanto, na época, a Praça Castelo Branco possuía dois postes muito altos (7 ou 8 metros talvez?), com refletores enormes. Até hoje não sei muito bem qual era a utilidade daquilo, mas, era diferente. Tinha também uma caixa com um aparelho de televisão dentro, permitindo aos que não possuíam a inovação tecnológica acompanhar as novelas retransmitidas pela TV Coroados com atraso quase mensal, além, é claro, dos jogos de futebol.
Na praça havia dois tanques que sustentavam, em seu centro, fontes que, realçadas por luzes, faziam o espetáculo noturno. No interior dos tanques nadavam peixes coloridos, aos quais as crianças atiravam pipocas, miolo de pão e tudo o que tivessem à mão para ver se os peixes comiam. Existiam ainda dois viveiros. Um era habitado por gralhas azuis, periquitos, araras, pombos coleira, coleirinhas e outros seres emplumados. O segundo era moradia de coelhos, porquinhos-da-índia e, pasmem, uma paca. Inconcebível nos dias de hoje esta convivência em espaço tão reduzido como eram o dos viveiros, mas naqueles tempos... . Na verdade da paca conheci apenas o dorso, uma vez que, por ter hábitos noturnos, ficava o dia todo deitada em sua pequena casinha deixando a mostra apenas esta parte do corpo.
Foi neste ambiente que tive o primeiro contato com a estátua do guerreiro “Roland”, a qual ocupa espaço privativo no conjunto formado pela Praça Castelo Branco e adjacências. Já o conhecia dos livros que reproduziam a imagem de sua “sósia” (na verdade a original) em Bremen. Vendo-a de perto pela primeira vez, tive a impressão de que a imagem sorria o sorriso dos livres e justos que representa, como a demonstrar satisfação pela cidade que via crescer a sua frente.
No domingo passado revisitei o local. A primeira impressão não permaneceu. Pareceu-me triste o olhar do guerreiro. Estaria ele insatisfeito com o que vê ou será que, como num espelho, reflete a insatisfação do cidadão crente de que sua terra poderia estar bem melhor?
* Horácio Negrão é ex-vereador e advogado em Rolândia-Pr.